quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Dia 22 de janeiro de 1833
Devia falar sobre o que aconteceu mas não consigo. Não tenho conseguido escrever sobre isto.
Hoje, durante uma curta caminhada, senti que estaria pronta para te escrever e aqui estou eu.
Gosto de pensar que sonhei: que foi um sonho breve e trágico.
Dividiram o meu sonho em 3 momentos e hoje cumpro o último: desta vez sozinha como tem de ser.
Confesso-te que gostava que o segundo momento do meu sonho tivesse sido mais violento e mais doloroso do que foi. Queria, de alguma forma, sentir na dor que me infligiam durante a execução, um castigo. Um castigo físico porque o merecia: e por isso o desejava profundamente. Mas não tive dor.
Tive, no entanto, pesadelos recorrentes.
Quiseram que eu explicasse os meus pesadelos no primeiro momento: eu expliquei.
Hoje vão perguntar-me se os continuo a ter e vou mentir porque são meus e os mereço.
Ganhei um autocontrolo que não sabia que tinha e dei a mim própria um prazo para chorar o que havia a chorar; depois deixar ir.
Deixar ir como fazemos quando alguém nos morre e um dia temos de nos despedir para sempre; porque chegou a hora, porque é tempo, porque precisamos.
Confesso-te que ainda olho para o tecto com o olhos humedecidos quando me vejo sozinha numa sala ou num quarto, mas rapidamente recorro ao autocontrolo como uma linda dama vitoriana.
Talvez tivesse errado, minha querida amiga, talvez tivesse tomado a decisão errada.
Hoje não há recuo possível.
O meu corpo esta a sarar por dentro e curar-se-à numa questão de dias.
Um dia devia falar.
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