segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Minha querida J.,

A minha existência não é fácil. Nunca foi. Foi grandiosa a tua ajuda quando me explicaste que era um erro renunciar a tanta dor. Devia abraçá-la e não fugir dela como tenho feito. A verdade é que estou cansada de me esconder. Naquele dia mostrei-lhe o meu corpo e disse-lhe que estava aqui.

Tenho escrito mais que o habitual. A dor é uma ajuda para produzir. Quase tão boa como tu.

Dormi com o S. a semana passada. Foi um erro. Estranhamente ele ainda ocupa um espaço em mim mas já não é amor. Is something in between. Ele acarinha-me e dá-me amor. E o amor é uma coisa bonita.

O livro da Patti foi fundamental para sair do meu casamento. Afinal separar-me tem sido uma unha encravada: não foi tão fácil e não saí disto sem consequências.

Estamos em 2012. Há quanto tempo é que somos amigas? (Ando a tentar lembrar-me do mês em que nos conhecemos. Há um lado romântico em mim que gostar de celebrar estas coisas.)

Pergunto-me se te fará tanta impressão a minha cabeça como a mim me faz. Pergunto-me se sabes, ou tens noção, da forma como vivo ao contrário. Às vezes gostava de ser como tu e ter a tua liberdade. Eu não sou livre. Talvez ninguém seja. Mas eu não sou livre de todo.

A minha mãe vai ser operada. Agoniza-me a ideia de que um dia ela morra porque só talvez nesse dia é que eu me sinta obrigada a olhar ao espelho.

Tenho pensado num livro novo depois do documentário. Tenho pensado que esse livro vai ser o meu verdadeiro livro, aquele que um autor tem na cabeça a sério, de fio a pavio. Às vezes pergunto-me se vale a pena escrever, continuar o blogue, procurar editoras. Descubro que sim quando leio um texto. Porque aquilo que eu escrevo dá-me prazer e eu quero dar prazer aos outros. Sobretudo a pessoas que eu não conheça e que estão «no sítio onde eu estou hoje».

Um dia talvez deseje nunca sair daqui.

Sempre tua,
I.

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