quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Querida I.,

Tem sido uma luta ligar dois conceitos que até aqui me têm parecido irreconciliáveis: o amor e a liberdade. A luta de querer aquele tipo de ligação que está para além dos limites físicos do mundo, que abdica do controlo e das expectativas, que é sábio o suficiente para entender que a vida existe no êxtase completo de um momento bem vivido, que tem paciência anciã para esperar sem ânsia, para fazer o que tem de ser feito a cada momento, que sabe que a construção de uma relação se faz com as mãos e que a ligação, essa ligação transcendental de que falo, não se esgota nem se perde na distância física dos corpos. Duas pessoas ligadas por um fio invisível, do coração de uma ao de outra, da mente de uma ao de outra, e que correm mundo - se preciso for correr mundo para completar essa viagem de auto-conhecimento e auto-realização em que estamos todos imersos - mas que voltam, cada uma à sua respectiva ponta final do fio para partilharem, de entusiasmo juvenil na voz, as suas aventuras vividas.

Neste momento há uma pessoa na minha vida que me faz crer que isto é possível. Partilho contigo «a firme certeza de que um grande amor existe e é possível». Pergunto-me se será assim o início. Nem as dúvidas me demovem da felicidade que sinto neste momento. Sinto-me tão segura nesta exploração que não tenho medo. Olho para D. e sinto que ela é a pessoa 'I got your back' por que tenho esperado. Estamos muito lentamente a conhecer-nos. E que deleite é esta lentidão: as coisas desveladas devagar, o sabor maximizado de cada novo encontro, de cada nova revelação, de cada novo espaço interior aberto para ser mostrado. Nunca vivi isto antes sem doença à mistura. Sem ter no peito uma ansiedade assassina, que desesperava e queria tudo logo, à pressa, à bruta, para saber logo tudo, se era possível, se não, para não ter de permanecer no terreno dúbio do «quem sabe?». Só que essa ansiedade-erva-daninha não se esgotava quando os véus caíam todos e a natureza da relação se mostrava em fim, não. Ela continuava. Continuava esfaimada, a cada nova situação nova, um medo renovado de perder, asfixiante e demolidor e a pressa, continuada, de levar a relação até ao final, para ficar já a saber o final, para não me dar à esperança, para não esperar que as coisas crescessem só para que depois a destruição fosse impossível de gerir.

Mudei. Mudei tanto. E estou tão feliz por me dirigir, cada dia mais convictamente, às coisas verdadeiras que integrarão o meu futuro.

Não creio que amemos apenas uma vez creio, sim, que amamos uma vez pela primeira vez e que essa experiência nos transforma. Felizmente esta minha crença atira lá para a frente, para mais perto da sapiência anciã, essa experiência de amar pela primeira vez. Porque só depois de cuidadas as nossas feridas primordiais e reconciliados connosco mesmos teremos o espaço e a destreza de saber viver esse amor que tanto desejamos.

Amsterdão é uma cidade linda. É chamada «A Veneza do Norte». Desfruta da água e anda de bicicleta.

Sempre tua,
J.

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