segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Dia 24 de fevereiro de 2014 (20:33)



Querida J,,

Gosto muito de ti. Faltou-me dizer isto.
Acredito que existem momentos na nossa vida em que o nosso corpo encontra a nossa sombra. Acredito que às vezes somos apenas um corpo sem sombra mas também acredito que por vezes eles se encontram sem desejo. Estes momentos de encontro não são decididos pelo corpo nem pela sua sombra mas são destinados pelo acaso.
O que relataste que te aconteceu lembrou-me imediatamente o momento em que o corpo encontra a sua sombra.

Queria que soubesses que acho que és a pessoa mais lúcida que conheço.
Foi esse reconhecimento que me fez ligar-te naquele dia, dentro do carro, à beira do colapso. Eu sabia que se te ouvisse, ganharia um pouco dessa tua lucidez - e eu precisava tanto dela.
E de alguma forma precisava que soubesses que estava ali e que aquela era a minha situação. Não sei porquê mas precisava. Era de ti, não era de outra pessoa.


Continuam os pesadelos. A minha dor atenuada mantém-se. Não desapareceu: aquietou-se e ficou cá dentro. Vai criando um vazio à sua volta, um vazio de chuva, e eu vigio-a para que se mantenha contida, quieta, silenciosa e fria.

Gosto muito de ti. Muito. Faltou-me dizer isto.

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